Devaneios nas alturas

Papais e mamães e bebês circulam pelo corredor

Tchau, tchau, palminhas, beijinhos, beijinhos. Tchau, tchau.

Bebês e aviões me preocupam.

Quando o avião descer e os bebês chorarem,

eles sempre choram,

serei eu a dar tchau tchaus, beijinhos, beijinhos e palminhas.

 

Quando a bola de sorvete caiu, na calçada,

você me olhou, com aquela incredulidade

tão típica de quem nada entende

de coisas espatifadas no chão.

Quando vi a bola de chocolate com menta

achatada no chão, não resisti. E ri.

Ri de me dobrar ao meio. Sabia do que se tratava.

Entendo de coisas espatifadas no chão.

Já cai tantas vezes, que seu olhar perplexo, de menino pidão,

desatarraxou meu riso.

Você também vai saber das coisas que caem.

Todos aprendemos a cair. E depois, levantar.

 

Quando nos deitamos no gramado do parque

– à luz do meio dia –

tudo que eu queria

era olhar as folhas verdes dos plátanos

carimbadas naquele céu azul.

Queria ser como elas: livre, leve e solta ao vento.

Banhada de sol e suavidades.

Sem pressa. Sem compromisso.

Na próxima encarnação, quero voltar árvore

– e ver de cima –

Gente cansada e dolorida repousando a meus pés.

 

Às vezes você fala e mostra coisas.

Não escuto, nem quero escutar.

Finjo que vi. Sem ver.

Aham, sei, entendi, tá bom, ok.

Queria não precisar

ter de ouvir, falar, pensar.

Queria apenas respirar e existir.

Ando farta de companhia.

E carente de solidão.

 

Não sei se você faz as coisas do jeito que faz

por querer economizar, pra provar competência

ou simplesmente, pra se desafiar.

Pra mim, tudo não passa de masoquismo.

Seja como e

porque for,

vou junto.

 

E os bebês continuam perambulando pelo corredor

Se eles soubessem o que os aguarda!

Também sofro quando o avião começa a pousar.

Ouvidos e altitude tem péssima relação.

Pois pra mim, crianças com menos de um ano,

são bebês.

 

Aqui do alto você insiste em me mostrar,

– pela janelinha espremida entre a asa do avião –

as ilhas e praias desertas,

as enormes áreas criadas pelo desmatamento e

devastadas pela mineração,

as pequenas cidades,

o mundo lá embaixo.

Quando descermos, meu amor querido,

tudo que me importa é abraçar e beijar nossos filhos.

O resto, todo o resto,

ficará para trás.