Em 2003 fizemos uma viagem ao Peru, em família. Aproveitamos férias coletivas entre Natal e Ano Novo e milhagens a expirar, e viajamos, imaginem, de Classe Executiva, pela extinta e saudosa VARIG. Ah, que saudades da VARIG.
De São Paulo direto à Lima e de lá para Cusco, onde conhecemos, além da cidade, igrejas e templos, as ruínas de Sacsayhuaman.
Seguimos de carro até o Vale Sagrado dos Incas,
acompanhando o Rio Urubamba até chegarmos a Pisac – 33 km de Cusco – em pleno domingo de feira com artesanatos coloridíssimos e diversificados.
O preto contrastante com o vermelho, o laranja e o amarelo das roupas coloridas de mulheres que usam chapeu de feltro, saias franzidas e longas, casacos descoordenados e calçados artesanais.
As crianças carregam “alpacas babys” embrulhadas em mantas tecidas por teares manuais, assim como os blusões de lã natural.
Os ponchos grossos, as lhamas mansas, o milho graúdo e doce, o barro nas estradas de terra, a cerâmica de linhas tribais.
Os sítios arqueológicos como Ollantaytambo e Tampumachay, vilarejos como Chinchero e Tambomachay nos introduziram na história e cultura inca.
O país é vibrante e colorido. De Cusco a Machu Picchu, 3 horas de viagem de trem por um cenário entre montanhas, florestas, o Rio Urubamba, bromélias e samambaias.
Chegada em Águas Calientes e a correria até o ponto de ônibus. Pela estrada serpenteante se chega ao cume das montanhas, onde está encravada a cidade inca de Machu Picchu.
O sítio arqueológico foi descoberto em 1911, pelo norte-americano Hiram Bingham, e é composto pelas áreas agrícola e urbana. Na área urbana destaque para a zona sagrada dos templos, praças, mausoléus reais, escadas e canais trabalhados em pedra com um perfeição impressionante. Em frente ao sítio arqueológico ergue-se o Huayna Picchu.
Fui a única da família a dispensar a caminhada montanha acima entre pedras, rochas e trilhas. Preferi me embrenhar pela cidade e sentir a magia daquele lugar único no mundo. Sim, Machu Picchu é único e, máximo. Senti falta da aventura na Huayna? Talvez da vista da cidade por outro ângulo e perspectiva. O Caminho Inca me levará lá, num melhor momento. Depois de saborearmos ao máximo a cidade mais famosa do Peru, voltamos de trem à Cusco.
Uma viagem digna de Harry Potter no Expresso de Hogwarts, onde o jogo foi o Truco em família, ao invés do Quadribol. Aliás, desconfio das regras que aprendi com meu filho, o único que sabia jogar … Jogamos do seu jeito.
De Cusco à Puno, mais ou menos 400Km, passando pelo marco dos 4.335 m de altitude, de carro. Em Puno, as primeiras folhas amargas de coca. A altitude nos deixa um pouco tontos e enjoados. Nas vielas de Puno, peças artesanais de ouro e prata e o melhor “Panzerotti” de todas as viagens. Na manhã seguinte, excursão ao Lago Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo.
Surpreendente pelo tamanho – 194km X 65km – e por acomodar as ilhas flutuantes onde vivem os Uros – povo que habita aproximadamente 40 ilhas flutuantes criadas à base da totora, uma planta aquática com mais ou menos 3 m de altura, usada tanto como material de construção para casas, balsas e artesanatos, também como alimento infantil (na parte inferior, o talo é rico em iodo). O cheiro nestas ilhas é de cachaça adocicada. Embriaga e enjoa.
Andar pelo emaranhado de totoras é estranho, inseguro e flutuante. Assim como o passeio de totora num grupo de 16 pessoas. Hora de seguir para Nazca e sobrevoar as linhas imortalizadas no deserto do Atacama.
O passeio é feito numa “avioneta” para 6 ocupantes (incluindo o piloto) logo cedo, com o sol despontando no horizonte. O café da manhã servido? Suco ou vitamina de mamão. E só. O restante seria servido no retorno ao hotel, nos avisaram. O avião compacto e as voltas, para esquerda e direita, as subidas e descidas, justificam o pré-café.
A baleia, o colibri, o papagaio, o macaco, o condor, o astronauta, a árvore, as mãos, a aranha, seriam mesmo pistas de pouso de extraterrestres, como sugere o suíço Erich von Danken, em seu livro “Eram os Deuses Astronautas”? As linhas quilométricas que só podem ser vistas do alto, são realmente intrigantes. O vôo, com voltas, subidas e descidas, dá um nó no estômago, na cabeça e nas ideias. O que representa aquele deserto marcado com linhas? Não tem como não teorizar. Não tem como não divagar. Não tem como não voar, e voltar sempre. O país é cativante, mágico e envolvente. Inesquecível.