Depois dos primeiros livros do ano, me debandei e fui ler poesia. Há quem diga que é fácil ler poesia; que rende, que a gente passa num revesgueio de olhos.
Projeto de Prefácio
“Sábias agudezas … refinamentos …
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
Como com essas imagens mutantes dos caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe
Um poema não é também quando paras no fim,
Porque um verdadeiro poema continua sempre …
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te
[para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras!”
( Baú de Espantos – pg. 125)
Normalmente preciso reler cada poesia. Uma ou duas vezes. Comum me perder no raciocínio do poeta.
O último poema
“Enquanto me davam a extrema-unção,
Eu estava distraído …
Ah, essa mania incorrigível de estar
[pensando sempre noutra coisa!
Aliás, tudo é sempre outra coisa
E, enquanto a voz do padre zumbia como
[um besouro,
Eu pensava era nos meus primeiros sapatos
Que continuavam andando, que continuam andando,
Até hoje
Pelos caminhos deste mundo.”
(Preparativos de viagem – pg. 68)
A poesia nos faz rodopiar por tempos e lugares no estalar de poucas palavras. Quando a gente vê, perdeu o fio da meada. Foi do tricô pro crochê, da lã pra tinta, do barro pro barbante. De Marte pra Babilônia. Do vento para o céu. Dos anjos para a infância direto para o leito de morte. Não é à toa que poesia é recomendado para os esquecidos desmemoriados e pobres de raciocínio. Quem lê sente a malhação cerebral. Talvez por isso tenha escolhido Mario Quintana, companheiro de piscina e verão. Logo ele! Deve estar se revirando na cova, sua última morada.
“A coisa mais natural da vida é a morte;
A coisa mais absurda da vida é a própria vida.”
(Velório sem Defunto – pg. 69)
Com os dias de calor e claridade infernais me coloquei a reler textos de Quintana. Encomendei alguns novos. É difícil encontrar Quintana nas livrarias. Bendita Internet! E assim, entremeadas no texto, algumas das muitas poesias e os quatro primeiros títulos lidos de Quintana. Outros e outras ainda virão.
(xii) Das Utopias
“Se as coisas são inatingíveis … ora!
Não é motivo para não querê-las …
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”
(Antologia Poética – pg. 50)
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