As Aventuras de Pi

“Preciso dizer uma coisa sobre o medo. Ele é o único adversário efetivo da vida. Só o medo pode derrotá-la. É um adversário traiçoeiro, esperto … Como eu sei disso! Não tem nenhuma decência, não respeita leis nem convenções, não tem dó nem piedade. Procura o nosso ponto mais fraco e o encontra com a maior facilidade. Começa pela mente, sempre. Num momento, estamos nos sentindo calmos, confiantes, contentes. Aí o medo, disfarçado sob a capa de uma ligeira dúvida, se infiltra na nossa mente como um espião. A dúvida vai ao encontro do descrédito e o descrédito tenta expulsá-la dali. Mas ele não passa de um soldado de infantaria com armamento deplorável. Sem maiores problemas, a dúvida consegue vencê-lo. Começamos a ficar ansiosos. A razão entra em cena para lutar por nós. Ficamos mais tranquilos. Afinal, ela está inteiramente equipada com armamentos da mais avançada tecnologia. Mas, para nossa surpresa, apesar da superioridade das suas táticas e de uma quantidade inegável de vitórias, a razão é derrotada. Nós nos sentimos enfraquecidos, hesitantes. A nossa ansiedade se transforma em pavor.

O medo, então, se concentra inteiramente no nosso corpo, que já está sabendo que algo terrível vai acontecer. Os nossos pulmões já bateram asas como um pássaro e as nossas entranhas foram embora se esgueirando como uma cobra. Agora, a nossa língua cai morta como um gambá, enquanto as nossas mandíbulas começam a galopar sem sair do lugar. Os nossos ouvidos ficam surdos. Os nossos músculos começam a estremecer como num ataque de malária e os nossos joelhos chocalham como se estivessem dançando. O nosso coração fica apertadíssimo ao passo que o nosso esfíncter relaxa demais. E assim por diante, com todo resto do nosso corpo. Cada parte de nós, a seu modo, entra em colapso. Só os nossos olhos continuam funcionando bem. Eles sempre dão a devida atenção ao medo.

Bem depressa, tomamos decisões precipitadas. Abandonamos nossos últimos aliados: a esperança e a confiança. E pronto! Nós mesmos nos derrotamos. O medo, que não passa de uma impressão, acabou de nos vencer.”

(As Aventuras de Pi – Yann Martel p.194/195)

Livro e filme recomendadíssimos. Pra ler, reler e ver de tempos em tempos. E a eterna dúvida: foi tudo imaginação? A zebra, o orangotango, a hiena e o tigre de bengala são metáforas de outros personagens? Leia e tire sua dúvidas.

 

Forjando a armadura – Rudolf Steiner

“Nego-me a submeter-me ao medo

Que me tira a alegria da minha liberdade

Que não me deixa arrriscar nada.

Que me torna pequeno e mesquinho, que me amarra,

Que não me deixa ser direto e franco, que me persegue

Que ocupa negativamente a minha imaginação,

Que sempre pinta visões sombrias.

 

No entanto não quero levantar barricadas por medo do medo

Eu quero viver e não quero encerrar-me.

Não quero ser amigável por medo de ser sincero

Quero pisar firme porque estou seguro, e não para encobrir o meu medo.

E quando me calo quero fazê-lo por amor e não por temer as

conseqüências de minhas palavras.

 

Não quero acreditar em algo só pelo medo de não acreditar em nada.

Não quero filosofar, por medo que algo possa me atingir de perto

Não quero dobrar-me só porque tenho medo de não ser amável

Não quero impor algo aos outros pelo medo de que possam impor algo a mim.

Por medo de errar não quero me tornar inativo.

Não quero fugir de volta ao vellho, o inaceitável. Por medo de não me

sentir seguro de novo.

Não quero fazer-me importante porque tenho medo de ser ignorado.

 

Por convicção e amor quero fazer o que faço e deixar de fazer o que

deixo de fazer

Do medo quero arrancar o domínio e dá-lo ao amor

E quero crer no reino que existe em mim.” (Rudolf Steiner)

Uma poesia que poderia ser um mantra para a vida.

Medo de criança

Crash, pof, paf, . Eca, quebrou!!! Aiaiaiaiaiaiai! E agora! Quebrei o vaso da mamãe. Como foi que ele escapuliu das minhas mãos? Já tô vendo mamãe dizer que tenho merda nas mãos. Ai meu Deus, ai meu Deus. Esse vaso era aquele que mamãe ganhou daquela amiga……………como se chamava a amiga chata da mamãe? ….. Ela mesma. Mamãe vai ficar furiosa quando chegar em  casa e não encontrar o dito cujo. Acho melhor eu recolher os cacos e guardar tudinho. Talvez mamãe nem perceba que o vaso quebrou. Vou ficar bem quietinha.  Parece que tem alguém chegando……nossa que cedo. Normalmente mamãe demora mais pra chegar. É ela. É o carro dela. Deixa eu ver. É ela, sim. E agora o que eu faço?Acho que vou ficar no quarto brincando de Barbie. Nossa, que silêncio! O que tá acontecendo lá embaixo? Vou dar uma espiadinha pra ver. Ah, ela tá guardando as compras do supermercado. Tomara que mamãe tenha lembrado de trazer minhas balinhas de goma. Quando ela ver que quebrei o vaso, ela vai me por de castigo e…………a primeira coisa que ela vai cortar vão ser minhas balinhas. Ela não pode ver o vaso quebrado, pelo menos não até eu ganhar minhas balinhas. Acho que esta semana não vou poder ir na casa da Julinha, nem ver os Ursinhos Carinhosos. Tudo por causa daquele vaso idiota que escorregou da minha mão. Se não me engano, papai não gostava nem um tiquinho dele. Vivia dizendo que era brega. Vou esperar ele chegar e aí eu desço. É assim que eu sempre faço? Acho que não. Mamãe vai estranhar e jájá vai pedir o que foi que eu fiz de errado pra ficar tão quietinha no meu quarto. Melhor eu descer e ajudar mamãe. Para onde será que ela foi? Oh,oh. Espero que ela passe longe do latão. Espero ter enrolado aqueles caqinhos todos muito bem no jornal. Aiaiai, ela tá voltando. Que cara é esta? Parece que ela tá furiosa. Só pode que ela encontrou o vaso quebrado. Aiaiaiaiaiai. Melhor eu subir e levar minhas balinhas e esperar o papai chegar.  Acho que ele não vai me deixar de castigo. Mas aonde ela está indo? Ufa! Passou do lado do latão. O que ela deixou? Ah, só são umas caixas de papelão. Ela ta voltando pra dentro de casa. Vou ficar quietinha sentadinha aqui. É assim que sempre faço? Acho que não. Ela vai desconfiar que tem alguma coisa de errado.

Fazer o quê. Um dia ela vai ter que saber.