Moto

“Moto é desapego” (disseram-me na Morada dos Pinheiros, em Bom Jardim da Serra) – Sábias palavras, um lugar encantador –  Desapego de conforto, de segurança, de beleza … Acrescento +:

Moto é viajar nas sensações, nos cheiros, sons e texturas,

– também ouvi isso –

É vento que afaga, acarinha e aranha a pele,

É sol que abrasa, chuva que alfineta.

Cheiros que – vários, insanos, lúdicos, cheirosos – inalam o corpo.

É luz que, por xs, cega e escurece a alma

por xs, clareia e engrandece o dia,

É velocidade que excita e assusta

nas curvas que engolem e se alargam na estrada.

– sinto tudo isso e muito + –

como listar a imensidão de sensações e sentimentos em momentos e instantes que parecem infinitos a dois pés do asfalto quente, rugoso e vertiginoso?

A viagem sobre duas rodas pode ser intensa e perigosa.

Como a vida.

Sobre duas rodas, duas pernas ou não, o perigo transita e espreita a vida.

Viver – disseram-me também – é flertar com o perigo.

Ando indecente.

 

Montanhas Rochosas e Alasca – uma experiência de tempos e momentos

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Avião, moto, carro, navio, trem, ônibus e avião. Uma viagem contemplativa da capacidade humana e grandiosidade da natureza. O primeiro tempo, no lombo das Harley Davidson. Viagem internacional de moto exige uma logística trabalhosa e cara.

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Pra quem gosta vale à pena – mesmo quando o sol tira férias e deixa chuva, vento e frio como substitutos. Depois de 1500Km de curvas e retas encharcadas, dias nublados com pitadas de sol, montanhas escarpadas e nevadas, rios de degelo, pinheiros num degradê de formas e cores, hotéis aquecidos de beira de estrada, pubs barulhentos, fomos conhecer o Alasca de navio.

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Uma cidade flutuante chamada Norwegian Sun passeando pelos largos canais e fiordes gelados. X restaurantes, X lojas e Duty Frees, X elevadores, X quartos, X passageiros, X hidromassagens, piscinas, salas de ginástica, bares, cinema, teatro, decks com espreguiçadeiras, quadras de esportes, biblioteca, mesas de ping pong – e, certamente muita coisa que não vi nem lembro – transformaram a viagem e a semana. Como bem definiu alguém, viajar de navio é levar o hotel a reboque. Prático e cômodo.

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Os primeiros dias foram chuvosos, nublados e ventosos. E, como disse outro alguém – qual o problema? Não temos escolha – saio com a mochila munida de roupa impermeável, luvas, gorros, cachecóis para qualquer imprevisto climático.

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Fico sabendo que os dias estão “amazing” já que em alguns lugares chove em torno de 360 dias por ano. Bom saber que isto é possível. Imprevistos à parte, o cruzeiro começou cheio deles: reservas trocadas, vouchers perdidos, mochilas extraviadas, atrasos. O stress de toda viagem. Depois de acomodados, hora de relaxar e aproveitar.

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São 7 dias com 3 paradas (Ketchikan, Juneau, Skagway) saindo de Vancouver chegando em Anchorage. Depois uma imersão no continente gelado, by train.

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Preferiria que fosse inverno. A primavera mostra-se insípida. Os pinheiros congestionam a paisagem e o Alasca fica com sorriso amarelo. Falta a essência da dureza e da dificuldade dos ambientes inóspitos. No Parque Denali, cadê os ursos? Cadê os salmões? A viagem de trem e de ônibus mostra os pontos mais distantes. E apenas isso. Voltamos a Vancouver, uma cidade maravilhosa que merece ser revisitada.

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Vestida para voar sobre duas rodas

fotos da internet
fotos da internet

Ser caroneira é o “must” e já é complicado, mas não tenho pretensões de virar piloto. Conciliar segurança com moda e estética é desestimulante, pra não dizer frustrante. Do que não abro mão é da bota (uso sempre de salto baixo, estilo equitação ou motoqueira) calça jeans justa estilo skinny ou legging, jaqueta de couro personalizada com patchs de viagens, luvas e bandanas. Por causa das luvas, nada de aneis. Por causa do capacete, nada de presilhas, tiaras, bicos de patos ou aranhas. Tenho usado o rabo de couro, assim o cabelo que fica por fora do capacete, não fica todo ouriçado. Pra quem tem cabelo comprido é a melhor opção, e mesmo assim, sofrível. Ao tirar o capacete o cabelo é um grande emaranhado de fios e suor. Cabelo curto, certamente é bem mais fácil. Outra questão complicada é a bolsa a ser usada durante a viagem. Pochete é uma das possibilidades, mas não é a minha preferida. Enquanto não encontro o modelo ideal, uso uma velha de guerra – que nem minha é – mas tem sido a que melhor atende na hora de pegar dinheiro pra pedágio, guardar óculos, chaves, celulares… Já que alforjes e mochilas ficam penduradas na moto. O estilo entre as motoqueiras é um capítulo à parte. Tenho priorizado a segurança, praticidade e o conforto. E alguma ousadia.

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Pra quem não conhece o rabo de couro, a Beira Mar em Floripa e um desfile de motoqueiros! Às vezes passear em grupo é a melhor pedida.