Tétris de Palavras

Fiz uma Oficina Literária com um escritor famoso.  Durante o intervalo, tiete que eu era, pedi a ele qual era sua fórmula para escrever. Disse-lhe que, normalmente meus textos nascem desconjuntados, repetitivos, cheios de erros e redundâncias, que preciso deixar o texto descansando, pra sedimentar ideias e palavras, depois passar foice, machado, facão, estilete, todas as lâminas de corte possíveis, quem sabe, limar e lixar arestas, preposições e artigos. Enfim, escrever – pra mim – é trabalho duro. Olhou-me ele – com o rabo do olho – e disse-me que pensava o texto todo e quando o escrevia, as palavras iam se encaixando sem maiores problemas. Tudo saía da cabeça encaixado e ia para o papel e pronto. Artigo, crônica quase no processo de finalização. Uma leitura. Um último ajuste de acentuação. Pronto. Ele retornou para a sala de aula e eu, terminei meu café, imaginando o jogo Tetris.  Aquele dos blocos que vão caindo e se encaixando. Imaginei meu Tetris de Palavras me dando Game Over o tempo todo. Péssima nos jogos. Péssima nas palavras. O dele só dando “Congratulations” entre fogos de artifício e estrelinhas. Voltei pra aula admirada com a capacidade – petulante – dele. Depois, fiquei injuriada – entre outras coisas – quando ele afirmou não existir este negócio de inspiração pra escrever. Tem que sentar e escrever. Pronto, deixei de ser tiete. Pra escrever bem, preciso estar inspirada. Vou passar a vida batendo o pé por esta verdade. Escrever, posso escrever sempre. Mas, escrever bem, só inspirada. E pra passar as lâminas de corte, preciso estar mais inspirada ainda. Não lembro qual escritor disse que depois de escrever o primeiro capítulo de um romance, ele reduzia-o a um, no máximo, dois parágrafos. Demais, não? Aliás, grandes nomes da literatura nacional e internacional incentivam a escrita sucinta, objetiva e trabalhada.  Por ora, consegui navalhar – sem dor ou arrependimento, mas inspirada até o último fio dos meus brios – o escritor da Oficina Literária da lista dos meus preferidos. “Congratulations, Suzete”.

Oficinas Literárias

Normalmente, quando faço uma Oficina Literária saio devastada, desiludida e desmotivada. Não que as oficinas não sejam boas. Até são. Como também são meus colegas oficineiros. A maioria, jornalistas em busca de aprimoramento ou pessoal ligado a teatro, publicidade, direito e, os outros. As minorias. Dos outros, faço parte.  São poucos os psicólogos nas oficinas literárias mais específicas. Então, quando os textos começam a ser apresentados, os profissionais  ligados às áreas de comunicação e letras, bailam. Dançam valsas, tangos e rumbas cheios de ritmos, gingados e elegância. Tanto faz se é de improviso – durante a própria aula – ou tema de casa. O que não é meu caso. Aliás, decidi não mais fazer, nem apresentar exercícios feitos em aula. Quando muito, os temas de casa. A impressão que tenho é que quanto mais oficino, pior fico. Sem contar que a maioria dos meus colegas são clientes de carteirinha e vivem de oficina em oficina, pagas e gratuitas, como atletas de academia. Malham palavras e ideias o tempo todo. Já os meus textos vem ao mundo aos trancos e barrancos. Primeiro os pés – torcidos e grandes – depois a cabeça – pequena e avoada – arrancados a ferro. Nascem deformados e fora de forma, almejando atenção e cuidado. Eles tem levado é muita porrada. E estão doídos, com a auto-estima “under line”. Atrapalhados e confusos, não retratam nem o que penso, nem o que sinto. E, não era assim. Por isso decidi dar um tempo e reencontrar minha veia, deixando a essência fluir livre e solta, sem regras ou críticas literárias. Nada de cobranças, prazos e exigências. Meu anti-EU. Alguém um dia me disse – um revisor do texto Serena – que me afastasse das oficinas. Elas tentariam me doutrinar. Chegou a hora de reencontrar minha escrita e meu estilo, no meu ritmo e tempo. Alguém um dia também me disse – minha terapeuta – que eu era um espírito livre e rebelde. Preciso me soltar das amarras e voltar a voar.