Quando algo não dá certo – ou dá errado – a gente logo pensa no que poderia ter feito de diferente. Afinal, o resultado esperado era para ser outro. Aí vem os questionamentos sobre E se eu tivesse feito assim, E se eu tivesse feito assado, E se … E se. E, se. Não tem como saber. Partimos então, conformados ou apaziguados para uma visão fatalista da situação: aconteceu do único jeito que poderia ter acontecido, até que alguém sacramenta “Deus escreve certo por linhas tortas.” Poderia ter sido pior. Poderia ter acontecido, isso, isso, aquilo … Amém. Mas, lá no fundinho, escondidinho de tudo e de todos, vez ou outra, surge – primeiro tímidas, depois, cada vez mais ousadas e corajosas – algumas alternativas para o E se, cada vez mais cheias de possibilidades. É chegada a hora de tentar de novo. De preferência o melhor E se de todos. Desta vez, tem que dar certo. Com todas as variáveis avaliadas e mapeadas, todas as imprevisibilidades cercadas, se o E se não for o esperado, bem, então Era pra ser assim mesmo, e ponto final. Por enquanto. Até novo fôlego. Por mais explicações que buscamos nunca encontraremos resposta para os “E se …” da vida. São escolhas demais, resultados também. Um sinal, uma decisão, um sim, um não, um gesto, qualquer coisa e, a vida segue noutra direção. Matemática e geometricamente falando. Duvida? Pegue uma régua e trace 2 pontos. Erre 1 milímetro e o risco passará longe do ponto de encontro do segundo ponto. Na vida acontece a mesma coisa. Lembro do polêmico filme Efeito Borboleta. E se eu pudesse voltar atrás. Até que ponto voltaria? O que eu faria de diferente? O que eu não faria? Será que não faria? Dificilmente. Sou daquelas que dificilmente se arrepende do que faz. Me arrependo mais das coisas que não tive coragem de fazer. E para as que eu fiz e não deu certo, persistente – ou teimosa – que sou, vou à luta, avalio e pondero possibilidades e me programo para nova tentativa. Mas, começo a engrossar o coro com a escritora gaúcha Lya Luft ao afirmar que “a maturidade permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade e querer com mais doçura”. Acho que é isso. O quadrado perfeito não existe. Tem coisas que são como são e ponto final. E é por isso que estou há 6 dias sem tomar banho e sem lavar os cabelos. De molho outra vez. Nada de levantar os braços nem levantar peso. Nem noventa graus nem 2 quilos. Já sei de cor e ainda acho que não sei. Dessa vez decidi radicalizar. Para o resultado ser diferente preciso ao menos fazer diferente. Depois do último retoque dos pontos do meu seio – há 16 meses – a ordem é a imobilidade total. Por favor, alguém puxe a descarga? Alguém, por favor sirva meu chimarrão? Quem vai escovar meu cabelo? Ficarei descabelada se for o caso. No máximo, morrerei de tédio de nada fazer. Que é tudo que eu devo fazer. E se ….
Tag: plástica
Convalescendo II
Hoje fazem exatamente 3 semanas que deixei minha insanidade temporária me dominar. É assim que entendo minha coragem e ousadia para o verdadeiro massacre a que expus meu corpo. Massacre pela dimensão dos procedimentos. O resultado parcial, mostra que valeu a pena cada ponto e corte. Até os pontos abertos, o umbigo remelento e os cortes maiores do que o previsto. Ou seja, minha total insanidade mental. Nada que a estética e a medicina não deem jeito. Que assim seja!!!!!
O que posso falar deste período? A primeira semana foi melhor do que o esperado, a segunda melhor ainda. Aí, veio a terceira semana e ferrou com tudo. Com tudo exatamente não. Apenas com alguns pontos do meu peito novo – inchado e banhado em líquidos – que não aguentou a proporção e, assim como uma represa, transbordou. Fluidos demais para um ser novo e imaturo conter e distribuir. Rompidas as bordas o jeito foi deixar fluir. Pânico geral: Como assim? O que foi que deu errado? Tava inchado demais. A drenagem não funcionou? Será que atrapalhou? Era pra acontecer, tava bom demais. Olho grande, gente demais elogiando e querendo um igual. Eu avisei, sabia que alguma coisa não ia dar certo. O importante é não infectar, o resto é nada, se comparado. E se der febre? Será que não é rejeição ao corpo estranho? Às vezes acontece, sabe como é, tava bom demais pra ser verdade. E a cicatriz? Vai ficar um rombo horroroso? O médico me tranquiliza. É normal acontecer? Usualmente não, mais comum é vazar na primeira semana. O jeito é ter paciência e fé, esperar cicatrizar de dentro para fora, e depois refazer os pontos. Não olha no espelho, dizem que não é bom. Tá ficando bonito, tá melhorando. Odeio sentir a umidade na curva mágica, é por lá que minha semana se esvai de tantinho em tantinho. Elucubrações, desvarios, fantasias.
Assim foi a terceira semana. A mais intensa em dor, insegurança, medo, opiniões, olhares e incertezas. Felizmente amanhã, entro na quarta semana e com ela, no consultório médico. De todos, o único capaz de me acalmar ou me enervar de vez. Como a única coisa que posso fazer é me abrandar e esperar, tenho tido altos papos com meu peito novo e frágil. Tenho arregimentado meu exército de anjos para dar força ao novato. Ele vai precisar.
Afinal, não é no peito que guardamos nossos amores, amigos, sentimentos? Não é lá que amortecemos os problemas e depois chutamos em frente? Não é lá que a vida acontece? Ele há de crescer mais, muuuuuuuuito mais. Terá que ser um continente maior que o planeta. Pois há muito a conter, acomodar, acarinhar. Uma galáxia inteira.