Sexo e casamento

Fala-se muito de sexo: sexualidade infantil, virgindade, sexo na adolescência, liberação sexual feminina, dificuldades e satisfação sexual conjugal, homossexualismo, transsexualismo, pílula do desejo, Viagra, DSTs,, AIDs, camisinha, etcetcetcetc. Apesar de parecer desmistificado e de ser – aparentemente – falado abertamente, sexo ainda é, assunto complicado, quando envolve sentimento, afeto e intimidade.

Na relação conjugal, sexo é fundamental, pois constitui a ligação central e energia organizadora na vida do casal. O relacionamento sexual, define claramente o espaço do casal, tanto em relação `as famílias de origem, como com os próprios filhos.

Quando o casal se forma, ambos levam para o casamento, sua bagagem familiar. Fazem parte desta bagagem – ou legado familiar – as crenças, mitos, os valores sexuais apreendidos em família: sexo visto como pecado, como coisa feia e vergonhosa, como prazer, consequência natural do amor entre um homem e uma mulher … O modelo adotado pelos pais geralmente serve como guia para o casal.

No relacionamento conjugal, vários são os pontos a serem ajustados no começo da relação: o sexo é apenas um destes pontos. Seguramente, um ponto nevrálgico para a saúde e felicidade conjugal, já que envolve entrega, confiança, intimidade, amor(outros pontos dignos de nota são questões relacionadas a hábitos, manias, dinheiro, poder, controle).

Quando surgem dificuldades no relacionamento conjugal, a vida sexual pode ser afetada, e vice-versa. Ou seja, quando surgem dificuldades sexuais, o relacionamento conjugal também pode ser afetado.

No decorrer da vida a dois, vários podem ser os problemas sexuais: falta de desejo sexual, incompatibilidade quanto `a frequência, incapacidade ou dificuldade orgástica, disfunções sexuais (impotência sexual, ejaculação precoce, frigidez, vaginismo, aversão ao sexo, etcetcetc), entre outras. As causas destes problemas podem ser orgânicas, psicológicas, falta de informação e conhecimento e atingem tanto o homem quanto a mulher, e em proporções semelhantes. A forma de lidar com estes problemas também é bem variável: fingindo que não há nada de anormal, justificando-se ou acusando o parceiro, fugindo do envolvimento afetivo, buscando sexo e casos extraconjugais, ocupando-se com outras atividades (trabalho, estudo), brigando, agredindo, mostrando-se indiferente ao parceiro, etcetcetc. Todas estas reações tendem a aliviar temporariamente e individualmente a situação, embora o relacionamento conjugal ressinta-se, tornando-se vulnerável e angustiante para marido e mulher.

Quando o casal perceber que existe algum desajuste sexual atrapalhando o relacionamento, o primeiro passo é dialogar abertamente sobre o que está acontecendo. Muitas vezes o casal tem problemas sexuais por não se conhecerem intimamente, muitos tem vergonha de falar sobre sexo, do que gosta, do que não gosta, expor duvidas, dividir fantasias e desejos, enfim, criar um ambiente erótico de aceitação, cumplicidade, intimidade e amor.

Como o casamento e o relacionamento sexual é a dois, a ajuda também deve ser para os dois (pouco importa quem é o culpado neste primeiro momento).

Alguns problemas sexuais e conjugais podem ter origem orgânica, e o medico (urologista, ginecologista) pode diagnosticar e tratar. No entanto, a grande maioria das disfunções sexuais são de origem psicológica, e a psicoterapia, o melhor remédio e tratamento. Bom salientar que quando existe um desajuste sexual, recomenda-se inicialmente a terapia de casal, e depois, caso haja necessidade, o atendimento individual.

O casal e sua sexualidade

A sexualidade faz parte do nosso dia-a-dia desde que nascemos, época em que está centrada em nós mesmos. O interesse sexual centrado no outro, começa na puberdade/adolescência. É quando acontecem profundas mudanças físicas, psíquicas e relacionais, em parte, provocadas pela maturação hormonal, que dá forma ao corpo do menino, transformando-o em homem e a menina, em mulher. Os caracteres sexuais femininos e masculinos começam a desenvolver-se, como o aumento da genitália, surgimento dos pelos, aumento dos seios e a menstruação na menina, a primeira ejaculação e o engrossamento da voz no menino, etc. Este amadurecimento físico capacita a procriação. Além das mudanças físicas, ocorrem mudanças emocionais. Entre elas, o interesse sexual e afetivo por um parceiro. Homens e mulheres se buscam desde o início dos tempos, mas a forma de se relacionar mudou muito no decorrer dos séculos, em especial nos últimos 50/60 anos. Entre as causas desta mudança significativa está a industrialização, a emancipação feminina nos anos sessenta, a descoberta dos anticoncepcionais, liberdade sexual, o divórcio, a situação sócio-política-econômica mundial, etc, que provocaram uma verdadeira e inimaginável revolução social e cultural, afetando drasticamente os valores do casamento e da própria família. Querendo ou não, gostando ou não, o homem teve de mudar (junto com a mulher, o casamento, família e sociedade) pra conviver nesta nova realidade, onde homens e mulheres disputam, lado a lado, chances e oportunidades.

Antigamente a mulher conhecia de antemão seu futuro: casamento e família. Outras opções eram quase inexistentes. O relacionamento conjugal tinha normas claras, com o marido assumindo o controle total sobre a mulher e sua família. Questionamentos quanto à sexualidade e questões conjugais eram raros, já que no sistema paternalista, o homem tudo pode e sabe. Assim, o sexo no casamento estava mais a serviço da procriação do que do prazer. Nada incomum era a mulher atribuir ao sexo, categoria de obrigação matrimonial.

Felizmente hoje, a maioria das mulheres participa ativamente das questões sexuais e conjugais, ou pelo menos tenta, busca se esforça. Mas, nem todas. Muitas ainda reproduzem o modelo antigo de casamento com sexo por obrigação. Para as mulheres e/ou casais que buscam a satisfação sexual no relacionamento conjugal , importa saber que ela não depende apenas de vontade e desejo. Fatores individuais, relacionais e inter-geracionais podem interferir na plenitude da gratificação sexual. Legado, mitos e crenças familiares, bem como o modelo conjugal transmitido, de geração para geração, com suas atitudes e formas de expressão de afetos, poder, diálogo. A forma como a família transmite a ideia de sexo tende a ser incorporado e repetido. Sexo visto como pecado, algo nojento, leviano, coisa feia, carinho, amor, respeito farão parte da bagagem que o indivíduo levará para o casamento e poderá afetar a sexualidade individual e conjugal.

Geralmente, no início do casamento existe maior facilidade de diálogo e interesse, de parte a parte, no que se refere a sexo. Ambos querem causar “boa impressão” e agradar ao parceiro. Existe o desejo de ter um casamento único e gratificante. Com o tempo o casal vai se conhecendo como realmente é, já não mais idealizado, surgindo sentimentos de frustração, decepção, raiva, ressentimento, medo de envolvimento,controle e intimidade, que começam a interferir no relacionamento sexual, que por si só, já é uma forma de controle conjugal. Questões financeiras, profissionais, sociais e individuais também podem ter efeito sobre a sexualidade do casal. A conjugalidade pressupõe compromisso. Ambos os parceiros contribuem para o sucesso e fracasso da relação. Do ponto de vista sexual, informações incorretas sobre mitos sexuais (tamanho do pênis, orgasmos múltiplos) podem aumentar a culpa e ansiedade do casal, gerando disfunções sexuais. As mais conhecidas são a ejaculação precoce, impotência masculina, frigidez e disfunção orgásmica feminina. Existes outras disfunções sexuais menos conhecidas,mas não menos importantes. Suas causas são variadas. Embora a maior parte esteja ligada a causas ou efeitos de caráter emocional, é prudente uma avaliação médica, pois alguns distúrbios neurológicos, urológicos, ginecológicos, endocrinológicos e de circulatórios afetam o desempenho sexual. Nestes casos, a indicação de tratamento medicamentoso ou cirúrgico pode ser necessário. As disfunções sexuais podem deixar seqüelas emocionais e relacionais, reativando fantasias inconscientes dolorosas, sentimentos de inadequação e inferioridade, interferindo potencialmente no relacionamento conjugal total. Outro fator individual que pode minar a satisfação sexual conjugal é a relação com a própria imagem corporal. Numa sociedade em que a beleza física e supervalorizada, muitos casais vêem sua libido e desejo sexual diminuídos em função de uma imagem corporal inadequada aos padrões estéticos vigentes. Embora as maiores vítimas sejam as mulheres, muitos homens começam a se preocupar com a dupla imagem corporal/desempenho sexual. Estas questões, embora individuais, podem ser acentuadas pela observação e cobrança insistente do parceiro.

Sexo e afeto nem sempre são complementares, mas a confusão entre homens e mulheres resiste aos mitos e crenças. Um dos parceiros, geralmente o homem, acredita que o afeto é expresso através do ato sexual. O outro parceiro, geralmente a mulher, acredita que o afeto tem valor em si, e interpreta as manifestações de afeto do parceiro como tentativas de sedução sexual. Ou seja, homens e mulheres percebem o ato sexual de formas distintas e acabam negociando sexo para conseguir afeto, e o afeto pra conseguir sexo. A insatisfação pode ser o resultado deste intercâmbio. Quando a frustração cresce, crescem também a raiva e o ressentimento, inibindo o desejo e a gratificação sexual do casal.

A sexualidade humana é complexa demais. Cada ser humano é único, assim como sua sexualidade. Na relação a dois existe o somatório das particularidades de cada um. Nesta soma não existe um único resultado esperado. Cabe ao casal fazer suas escolhas e encontrar satisfação na vida a dois.

 

 

 

 

 

Os prazeres do sexo

Aos 40 anos, sexo não é mais um bicho de sete cabeças. Ele é o que é. Prazer. Sensações. Orgasmo. Expedições e descobertas. Toque. Sensualidade. Entrega total.  Intimidade. Pena que nem todas nos permitimos chegar a este estágio de maturidade sexual. Para aquelas que se permitem, os prazeres da cama passam a ocupar um espaço novo e diferente em suas vidas. Mesmo com o corpo marcado pela vida, pelas gravidezes e partos, pelo efeito sanfona, pelos hábitos não saudáveis, pela vida que levamos até então, o sexo pode ser maravilhoso. Ele pouco depende do corpo.  Depende muito da cabeça de cada uma, e muitas vezes, do que sobrou do relacionamento, e do tipo de parceiro que escolhemos. Quando os adultos se permitem, o sexo passa a ser uma agradável e relaxante brincadeira de gente grande. Basta sabermos brincar, soltar nosso lado lúdico, nossas amarras. As regras já conhecemos. Nossos limites também. Ao longo dos anos atendi muitos casais, muitas mulheres e muitos homens. Todos sofrem, ou por ter ou por não ter amor. Quase sempre os conflitos pessoais e conjugais giram em torno do amor e do sexo. Obviamente a vida não gira apenas em torno desta dupla dinâmica, mas quando nossa vida afetiva e sexual vai bem, todo o resto se encaixa. Trabalho, saúde, amigos, filhos, família. Quando podemos ser quem somos, quando podemos nos desnudar totalmente, tirando tanto a roupa do corpo como a roupa da alma, quando podemos nos entregar sem medo de se perder, quando nos aceitamos e aceitamos nosso parceiro, diria que temos os ingredientes perfeitos para um relacionamento harmonioso e uma vida plena. Acredito que muitas mulheres e homens que fazem a opção de ficarem sozinhos o fazem não tanto por opção, mas principalmente por não terem encontrado alguém que lhes complemente. É do ser humano buscar outro ser humano que lhe dê um contorno, que lhe dê a sensação de completude e de pertencimento. A vida é bem mais leve e saborosa quando feita a dois, assim como o sexo. Pena que muitas pessoas não tiveram a sorte, a paciência, a tenacidade de construir relacionamentos gratificantes. Ou passaram a vida buscando algo que não existe, algo que criaram em sua fantasia. O relacionamento harmonioso e o sexo quente e prazeroso é resultado de trabalho, esforço e dedicação. Penso que muitas pessoas gostariam de contar suas histórias de vida com “Era uma vez,        ,e viveram felizes para sempre”. Aquilo que fica entre as vírgulas preferem não ver, não relacionar, não viver.  E é justamente o que está entre as vírgulas que dá o tempero, que dá o enredo de nossas vidas. Assim, quando chegamos aos 40 não importa se chegamos casadas, separadas, divorciadas, viúvas, solteiras, ou, como dizia uma amiga, “tico-tico no fubá”. Importa chegarmos inteiras para o amor e para o sexo. Esta dupla dinâmica faz maravilhas na vida de qualquer pessoa, independentemente de idade e corpo.

                                                                            Los Canales, outubro de 2006.

Comida é o novo sexo

Esta frase de Bruna Lombardi, do filme “Onde está a Felicidade”, tem martelado minhas ideias e compreensões, desde que sai do cinema, no último sábado. Companhia diária e voraz, fica fungando minha nuca espreitando minhas escolhas alimentares. Na noite em que a adotei, logo aconchegou-se no meu colo e exigiu espaço em meu olhar. Depois do filme fomos no Galeto’s alimentar o corpo de branco e verde. Prato bonito e saudável.Ao lado, uma família procurava fazer o mesmo. Um avô debochado, pai e mãe obesos e uma filha magra desertada. Apenas seu prato indicava sua presença. Mas aquela presença ausente inundou a mesa. Sob o olhar sorridente do avô a irritação atingiu a obesidade dos pais em cheio. Frente aos pratos nus, aquele transbordante delatava a deserção da filha. Olhares aflitos aguardavam impacientemente sua chegada, celular mudo, os pais levantam-se para sumir do olhar sarcástico do avô e do prato sorridente a sua frente. Vão em busca da fujona consumista. Neste meio tempo, eis que surge a menina. O avô apenas comenta da aflição dos pais, com olhar sarcástico. Entre uma garfada e outra do verde saudável, ela localiza os pais. Já está na mesa com o avô, é toda sorrisos e satisfação. Os dois não tardam a chegar. Desmontam sobre suas cadeiras. O olhar perscrutador revela o instinto assassino e sanguinário frente a filha independente e o prato recém tocado. Além de independente a menina revela-se muito inteligente. Com gestos suaves e olhar tranquilo ela descarrega seu meio frango desossado no prato do pai, sua porção de creme de espinafre no prato da mãe. O avô, antes sorridente, se cala. Começa a mexer nos casacos, mostrando sua pressa ante o prato vazio. Percebeu que a neta não o calaria com comida. Ele não merecia, afinal foi um mero espectador do teatro familiar. Assim como eu. Saímos antes do “gran finale”. A cena cimentou a frase. Comida é prazer, descoberta, fuga, companhia, perdão, obsessão. Preenche qualquer falta qualquer corpo qualquer necessidade.Saindo da Praça de Alimentação bisbilhotei outras mesas, restaurantes, cafés e lanchonetes. O olhar e o corpo repousado depois da orgia consumista e gastronômica era só sorrisos, satisfação, sensualidade e provocação. A energia libidinal era palatável e transmitia uma saciedade civilizada. Desviei meu olhar voyer e numa busca inocente por sinalização para dar o fora dali, me deparei com as placas de Praça de Alimentação. Poderíamos chamá-las de Motel Tentação ou Prazer A Qualquer Hora ou Preliminares Doces E Picantes ou……….Sirvam-se. Sentadinha no carro, com o estômago satisfeito e a cabeça cheia de ideias, pensei na noite propriamente dita. Cama e sexo? Ou apenas o relaxamento sensual e provocante e o sono gostoso dos prazeres satisfeitos?
Tenho que me livrar dessa adoção urgentemente.