Convalescendo

12 passos da cama ao banheiro. 22 passos até o topo da escada, 9 degraus, mais 22 passos até o sofá da sala de estar, e de lá até a geladeira na cozinha, mais 30 passos. Se quiser respirar o ar puro e apreciar a natureza, na beira da piscina, são outros 9 degraus, mais 60 a 70 passos, conforme o local exato em que vou desmoronar sobre minha poltrona de rattan. Além dessas odisseias – repetidas algumas vezes ao dia – as drenagens linfáticas diárias e o ultrassom, dia sim dia não, e depois o banho e a recomendação médica de nunca, jamais, em hipótese alguma, elevar mais de 90 graus os braços, constituem minha atividade física diária. Depois de 12 dias de cirurgia, alguma dor, muitos senões e muito tédio, assim tem sido meus dias, alegrados apenas pela leitura, palavras cruzadas, visitas, alguns filmes e um pouco de internet. Qualquer atividade fora desta rotina, percebo, ainda me deixa cansada. Mesmo assim, quase ganhei uma estrelinha na minha consulta de revisão, 4 dias atrás. Para o médico, minha recuperação está acima da média e, tirando o sacrifício de não poder erguer meus braços, estou liberada para tudo. Apenas para dirigir, meu corpo precisa de mais 2 dias. De resto posso fazer tudo que eu quiser. Como se eu aguentasse, espertinho. Tanto ontem como hoje, saí ao lado do meu filho. Ele dirigindo e eu absorvendo a vida do lado de fora. Fomos a uma feira num dia, no shopping no outro. Ao chegar em casa, a alegria de sair do tédio e o cansaço de exigir do corpo retalhado algo que ele ainda dispensa. Os dias estendida na cama com almofadas, almofadinhas, almofadões, travesseiros e travesseirinhos amparando os membros, acolhendo a dor e o desconforto tem sido o consolo maior para quem ainda se descobre em novas medidas e curvas. Mas cada dia é melhor que o dia anterior. Diariamente faço a contagem regressiva, e, segundo dizem, em uma semana, pelo meu ritmo, estarei quase novinha em folha. Existe um tempo enormemente maior para outras recuperações, mas poder levantar os braços e dirigir por aí, já representa um prêmio considerável e valioso.

Após 3 meses de academia e dieta –levadas muito a sério – o acabamento final foi feito por um escultor de corpos. Um cirurgião plástico. Em vias de fazer 50 anos, existe gordura grudada em lugar que nem a rigidez da dieta, o suplício do exercício físico ou a massagem vigorosa de mãos treinadas conseguem arrancar. Pensei estar crescida e madura para os procedimentos. E me fui. Sem pensar muito. Foram mais de 10 anos pensando e avaliando. Quando a motivação e a coragem subjugaram o medo e as desculpas, marquei a data e fiz. Sem muitas delongas. Está feito.

Apesar da redução total de tudo em minha vida, para me recuperar bem e saudável, sei que valeu a pena. Agora, além de calma, preciso de tempo. Calma para ver o corpo se achando e se remodelando. Tempo para colocar tudo em dia. Inclusive meu blog.

Mas, com calma – braços livres – e tempo, eu seu que chego lá. E vou contando como, o que, quando, porque. Essas coisas de mulher.

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