Perdi a conta de quanto tempo não fazia mais scrap.
Uma premissa básica pra engatar qualquer ideia de desenferrujar tesouras e estiletes, é que haja, no mínimo, tempo e espaço.
Até andei ensaiando: um caderno de receitas (inacabado) e um mini sobre pets (sem muito sucesso).
Me envolvi com tanta outra coisa, que o scrap não coube, nem no meu tempo, nem no meu espaço. Empacotei tudo, guardei e esperei. Sabia que chegaria a hora de retomar um dos meus hobbies favoritos.
Tudo passa. Tudo tem o seu tempo. Só precisa ter a sabedoria de saber esperar.
Quando a gente atropela desejos e necessidades, sai arroz com cara de sopa.
Enquanto estive transitando entre São Paulo e Lajeado, meu atelier ficou dividido e repartido.
Até comprei itens duplicados, mas é sempre a mesma coisa: o que a gente quer está longe de onde a gente está.
Assim, quando mudei pra Jurere, decidida a juntar trecos e cacarecos, sabia que teria uma senhora trabalheira. Das duas casas e duas vidas, teria de construir uma só. Teria de me inteirar com meus livros, tapetes e sofás. Tesouras, papeis, lãs e fricotes. Teria de me remontar com tudo o que tinha e que estava dividido e repartido.
Entre a casa inacabada e a mudança de duas casas encaixotadas, um misto de pânico e felicidade. E lá se vão 10 meses, em que a minha odisseia domestica teve inicio. Pra resumir este período, minha lombar é a delatora principal deste longo processo cheio de bagunça, tinta, sujeira e ideias. Mas, tirando os quilos extras, as unhas lascadas, os hematomas e as dores generalizadas, parece que tudo está indo bem. Já vejo flores nos meus botões. Aprendi, e ainda resvalo de vez em quando, a respeitar meu ritmo e minhas vontades.
Meus lemas tem sido “nada vai fugir” e “amanha é um novo dia”.
E, em meio a tantas demandas, vou fazendo o que posso. Mas, tenho de reconhecer: estou exausta, exaurida, acabada: uma semana perdida por Galápagos, tem sido meu sonho de consumo. Enquanto este sonho não acontece, começo uma nova frente de serviço: meu tão sonhado e turbinado atelier. Tudo junto, organizado e com cara de artista. Por enquanto, uma zoeira generalizada. Como é que a gente é capaz de juntar tanta tranqueira?
Pra me consolar, sei que nada vai fugir e que existem muitos amanhãs pela frente.