Quando o verão passar

Depois de um mês, ontem foi dia de visitar minha mãe no RS. 

Em meio ao calor marciano, talvez vulcano, ou como diria uma amiga, tá tão quente que parece que estou abraçada ao sol (entendo a insanidade dela, sinto-me igual). O calor do RS pode ser tão medonho quanto o inferno, digo, inverno. Aliás, pra quem não sabe, no RS existem quatro estações muito bem definidas: primavera, verão, outono e inverno. Meu xodó é o inverno, o equilíbrio está nas duas meias estações (outono e primavera) e o verão é o calvário do ano. Mas, ele passa. E quando passa, a felicidade pelas estações que seguem à frente é muito bem vinda e aproveitada. E entre um calor insano e outro, despencam aquelas chuvas de canivete que só quem mora num país tropical conhece. Calor demais + chuva demais = a natureza perde suas medidas, seus modos e dimensões.

Na casa de minha mãe, fui passear no jardim – reformado de julho a outubro, cuja maior proeza foi retirar sete caminhões, tipo toco, de entulhos, árvores e plantas, o que reconheço e não me arrependo, pq o resultado compensou – e percebi o quanto a natureza metaboliza bem o excesso de sol e de chuva. Em todos os canteiros, no recém plantado gramado, nas áreas ainda não trabalhadas, o inço e as plantas cortadas e remanejadas aproveitaram o verão pra se expandir e mostrar sua força. Pequenas plantas, arbustos e árvores simplesmente voltaram a brotar e ocupar seu antigo espaço. Aqui e acolá vejo folhagens e galhos de flores crescendo e vicejando. Nem aí para nosso esforço de reformulação e paisagismo clean e contemporâneo. Sem contar as tiriricas. Malditas tiriricas!!!!!!

Sempre em comum acordo com minha mãe, a verdadeira proprietária do jardim botânico que é o jardim da casa dela, concordamos em deixar tudo florescer e aparecer. Quando o verão passar, a gente resolve o que fazer com as plantas indisciplinadas que não aceitaram suas novas posições e lugares. Com exceção das “flores da vovó” que surgiram por toda parte. Cortá-las incitou-as a vir com mais força e determinação. Elas são as preferidas da minha mãe e se crescessem no colo dela, era lá que deveriam ficar. Nem pensar em arrancá-las e replantá-las.

Não me atrevi a contestar, sequer a pensar na questão das flores da vovó ou Gengibre-Azul ou Trapoeraba-azul no colo da minha mãe. O calor cozinha meus miolos e dizima qualquer tipo de esforço físico ou mental. Resolveremos entre março, abril ou maio. Não estou preparada, nem animada para um mal-educado bate-boca entre mãe e filha. Deixamos estar por enquanto. Pra retomar o jardim, preciso no mínimo, de energia de persuasão. Neste momento tudo que quero é piscina e ar-condicionado neste caldeirão escaldante que é o Vale do Rio Taquari, no RS. 

O jardim vai esperar. Mil ideias vão brotar.

E, em se tratando de natureza, tudo tem o seu tempo. E sinceramente, não é tempo de desencavar o gengibre azul. 

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