Reciclando barro e vida

O ano está terminando e com ele meus materiais para fazer cerâmica. Ou seja, os minerais usados para a esmaltação das peças e a argila. Como o período de férias do curso vai até março – e não pretendo fazer cerâmica em casa, durante este período – optei por reciclar a argila usada (excessos remanescentes, aparas de trabalhos e trabalhos rejeitados). 100% do que sobra pode ser reciclado e reaproveitado.

Modo de fazer: Coloca-se a argila a ser reciclada num saco plástico mais grosso ou pote plástico (de sorvete, por exemplo) e acrescenta-se água. Difícil precisar a quantidade necessária para que a argila se recomponha garantindo plasticidade e fácil manuseio. A tarefa exige força, paciência e obstinação. Ou tem água demais ou de menos. O jeito é ir amassando, sovando, embarrando as mãos, deixando secar ao sol, suavizar ao vento, tentar de novo e de novo.  E de novo. Tem de bater, rolar, amassar, amassar, amassar. Até que não hajam mais grânulos cerâmicos endurecidos. Tem quem recicle semanalmente pequenas quantidades. Tem quem junte uma maior quantidade e recicla por mês, semestre ou ano. Esta é a segunda vez que reciclo meus refugos. Apesar de útil, o processo é chato, trabalhoso, e, conforme a quantidade, pesado. Não é incomum ficar com dedos e artelhos doloridos. Mas reciclar argila é necessário. Tanto por causa do preço (a argila atóxica de boa qualidade é cara), pela questão ecológica de aproveitar ao máximo o que se extrai da natureza, como também pela disponibilidade do produto, que não existe em Florianópolis e vem de Curitiba ou SP).

Reciclar tem sido um modo de vida. O scrapbooking, o mosaico, o patchworking, a pintura, o cozinhar no dia a dia e a própria vida me ensinaram que reciclar é ressignificar. A apara de barro, o folder de um evento ou mapa de uma cidade, a roupa velha, a bijuteria que arrebentou, o móvel velho, o adorno quebrado, botões perdidos, chaves, espelhos, potes de vidro e de plástico, cestas de vime, garrafas … absolutamente tudo pode ter nova serventia. A apara de barro vira um novo pote cerâmico; o folder de um evento ou mapa contextualizam de forma pessoal o álbum de scrap da viagem dos sonhos; a roupa velha (conforme o estado) pode ser doada para quem precisa ou ser usada como pano de limpeza ou de chão; o móvel velho pode ser pintado e restaurado e ter outra serventia; o adorno quebrado pode ser usado numa peça de mosaico, a garrafa pode virar candelabro ou aromatizador de ambiente, o espelho quebrado pode ganhar nova forma e função, etcetcetc.

A vida nos ensina o mesmo.

Do limão uma limonada.

Da casca do limão uma água frutada.

Ressignificar os eventos diários e cotidianos

  • bons e ruins, justos e injustos, certos e errados, tristes e felizes –

é se permitir viver em plenitude.

Também a vida tem seu tempo, momentos e dosagens.

A vida é luta diária.

Desistência ou persistência.

Lágrimas e gargalhadas.

Otimismo e pessimismo.

O céu e o inferno.

Recicle-se.

Reinvente-se.

Ressignifique-se.

Transforme-se na sua melhor obra de arte.

O artista é você.

A matéria prima:

Sua vida.

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